Na publicação de hoje, vou focar no tema da transexualidade, que é muito pouco falada, e por causa disso acaba gerando confusão e preconceito. É comum as pessoas não saberem as diferenças entre os travestis, os transexuais e os homossexuais. Explicando de forma bastante sucinta: os transexuais são pessoas que sentem que nasceram no corpo errado, que seus órgãos genitais não condizem com seus sentimentos e sua alma, e, portanto, querem fazer a cirurgia de mudança de sexo; os travestis gostam de se vestir da mesma forma como o sexo oposto, mas não querem mudar seus órgãos genitais, gostam deles; já os homossexuais são pessoas que sentem desejo e atração por pessoas do mesmo sexo que o seu. É importante salientar que nenhum dos três sofre de uma doença. São apenas formas diferentes de ser, proporcionadas pela grandiosidade da diversidade humana.
Para ilustrar este assunto eu trouxe o filme Transamérica, que conta a história de um transexual masculino (nasceu com os órgãos masculinos, mas sente-se mulher), que sonha em se tornar de fato uma mulher, a Bree. Há anos ela toma hormônios e faz tratamento psicoterápico (exigido para quem quer fazer a cirurgia de mudança de sexo) e, quando está a um passo de fazer a operação, descobre que é “pai” (quando ainda tentava viver como homem se relacionou com uma mulher)de um adolescente de 17 anos, que está envolvido com drogas e prostituição. Bree vai em busca de ajudar o filho, porém sem dizer que tem laços familiares com o garoto, e sem lhe dizer a verdade a respeito de si mesma e, assim, eles embarcam em uma viagem juntos.
Ao descobrir que tem um filho e que então ela é um “pai”, fica desesperada, pois ela não se sente um homem, como então poderia ser pai? Além do mais, fisicamente ela já se parece e se apresenta como uma mulher. Isto tudo lhe causa muitos conflitos internos.
O filme mostra de forma muito interessante que Bree realmente se sente uma mulher, porém com algo sobrando em seu corpo, que não lhe pertence e que somente os hormônios e a cirurgia farão com que ela se sinta completa e bem consigo mesma.
No decorrer da viagem, ambos acabam aos poucos criando afeto um pelo outro, mas não deixam isto transparecer nitidamente. Sem querer o filho descobre que Bree tem um pênis, e acaba a humilhando na frente de outras pessoas. O preconceito e o desconhecimento em relação à transexualidade aparecem claramente neste momento. Após muita conversa o garoto a compreende e aceita sua situação.
O maior preconceito vem da família de Bree, que não a aceita de jeito nenhum como sendo mulher. A humilham frequentemente, trazendo sofrimento a todos. Isto não quer dizer que não existe amor dentro da família, eles apenas não sabem lidar com seus sentimentos nesta situação. Com um pouco mais de convívio, as coisas começam a mudar.
No final do filme, depois de muitas confusões e desentendimentos, o garoto fica sabendo que Bree é seu “pai”, e o filme dá a entender que ambos terão uma vida familiar ou pelo menos serão verdadeiros amigos, um respeitando o outro.
De maneira geral, o filme é bem expressivo ao mostrar as dificuldades e sofrimentos por que um transexual passa, assim como sua família e as pessoas ao redor. Porém, também fica nítido que esta não é uma opção deles, e que a felicidade acontecerá de forma mais plena quando eles se sentirem congruentes de corpo e alma (como nós também nos sentimos). Por que então ter preconceito e querer privá-los deste direito?
Diretor: Ducan Tucker
Atores principais: Felicity Huffman, Kevin Zegers, Elizabeth Pena
Ano: 2005.
Duração: 103 minutos.