Nesta publicação, venho compartilhar com você uma entrevista sobre a Aids (tema de extrema importância para debatermos) que dei para o portal da metodologia OPEE (Orientação Profissional, Empregabilidade e Empreendedorismo). Esta matéria foi realizada no dia 01/12, em homenagem ao dia mundial de combate à Aids. No final do texto está o link da reportagem, no portal da OPEE, vale conhecer!
“Precisamos botar a boca no trombone”
01/12/2014
O fato de a Aids não ser mais uma sentença de morte como era antes da descoberta dos coquetéis antirretrovirais, somado a um silêncio sobre o assunto tanto na mídia como também nas instituições de ensino, está formando uma geração de jovens muito mais suscetível à contaminação. Uma prova disso são números divulgados neste 1º de dezembro, que apontam um aumento de mais de 50% na infecção por HIV entre jovens brasileiros. Para reverter essa tendência, não há outro caminho senão “botar a boca no trombone”. A opinião é da sexóloga e professora Paula Napolitano, que dá dicas de como as escolas podem abraçar o tema, contribuindo com atitudes preventivas dos seus alunos.
OPEE – Você que trabalha a questão da sexualidade em consultório e também está em salas de aula sente que está havendo um relaxamento em relação ao tema?
Paula Napolitano – Sim. A gente não ouve mais falar sobre Aids e, ao mesmo tempo, muitos jovens estão dizendo que a Aids não mata mais, que agora se vive com a doença. Mas eles não sabem como se vive, não têm noção do que é ter de tomar os remédios para o tratamento, dos efeitos desses remédios e da perda de qualidade de vida que tudo isso gera. Isso sem contar o preconceito que ainda há sobre os soropositivos.
OPEE – Hoje saiu uma estatística terrível contra o Brasil, um país que é referência mundial na distribuição de coquetéis gratuitamente, mas que teve um aumento de mais de 50% na infeção por HIV entre os jovens, e isso não foi manchete nos principais portais de informação. A mídia tem culpa nisso?
Paula Napolitano – Sim, porque a mídia tem abordado cada vez menos o tema e tem resumido sua comunicação no jargão “use camisinha”, que é uma informação sem conhecimento, portanto muito frágil. Basta o pedido de uma “prova de amor” do namorado ou da namorada e já se deixa a camisinha de lado, porque falta conhecimento, falta trabalhar a questão afetiva, que desmistifique os estereótipos sobre a doença, sobre o prazer, o amor e a saúde, para que se gere autoestima. A saúde está acima de chantagens disfarçadas de “provas de amor”.
OPEE – O que falta fazer para reverter essa preocupante situação? No ambiente escolar, por exemplo, o que se pode fazer?
Paula Napolitano – Precisamos voltar a botar a boca no trombone, ou seja, voltar a trabalhar o assunto dentro das escolas, falar sobre a Aids de maneira mais aprofundada e esclarecedora, aproximando as informações do contexto dos alunos.
OPEE – Quando eu estava na graduação na Cásper, no final dos anos 90, havia cartazes por todos os corredores, o Centro Acadêmico fazia campanhas, a faculdade chamava constantemente o doutor Dráuzio Varella para falar com alunos. Hoje dou aula em faculdades e não sinto mais esse tema ser abordado. Levar pessoas ligadas ao assunto ajuda?
Paula Napolitano – Sim! Precisamos fazer justamente isso, levando até as instituições de ensino pessoas que possam mostrar a realidade, os riscos e os comportamentos que precisam ser adotados para se proteger. Levar um jovem que se contaminou porque não usou camisinha, por exemplo, é interessante, porque vai mostrar para os alunos que todos estão arriscados a se contaminar se adotarem um comportamento de risco. Esse jovem pode contar como é conviver com o vírus, os efeitos da medicação, o preconceito sofrido. Nada melhor que o exemplo para educar. Na falta de um personagem presente, pode-se usar vídeos, que também são muito eficientes.
OPEE – A gente sugeriu hoje para as escolas usarem o vídeo da Valéria Polizzi, que contraiu Aids do primeiro namorado, na primeira transa…
Paula Napolitano – Pois é. Eu vi. E isso funciona! Porque mostra que o risco é real e a convivência com o vírus não é fácil. Isso faz o jovem refletir sobre suas atitudes. Precisamos levantar reflexões, precisamos passar o vídeo e gerar debate, precisamos compartilhar experiências.
OPEE – Ainda existe a ideia de que a Aids é uma “peste gay”?
Paula Napolitano – Por incrível que pareça, sim, e eu ouvi isso ontem em uma palestra que dei. Um cara simplesmente disse “mas isso dá mais em gay…”. É uma desinformação enorme, porque hoje a Aids está afetando mulheres casadas que contraem do marido e pessoas da terceira idade! E isso não é falado, isso não é debatido.
OPEE – E sobre os soropositivos, o preconceito em relação a eles ainda é grande?
Paula Napolitano – Sim. Existe um preconceito deles com eles mesmos, em muitos casos, e depois da sociedade em relação a eles. E tudo isso acontece justamente por falta de conhecimento sobre a doença, sobre suas formas de transmissão e também sobre o fato de não haver um “perfil” do soropositivo. Não é o “drogado”, o “promíscuo”, é qualquer um que tiver atitude de risco.
Reportagem: Marcos Brogna | Foto: Arquivo Pessoal
http://www.opee2.com.br/Noticias/Geral/%22Precisamos-botar-a-boca-no-trombone%22