Como ter um relacionamento duradouro e feliz

Trouxe hoje um assunto que está em todas as rodas de amigos, nos consultórios, em todo lugar: paixão, amor e casamento. Achei uma reportagem da reconhecida neurocientista Suzana Herculano-Houzel sobre o tema, e achei de extrema importância refletirmos sobre ele.

Resumindo a reportagem abaixo, ela diz que através do sistema de recompensas os casais podem sim viver anos e até mesmo a vida toda com a mesma pessoa, e ainda assim sentir o mesmo prazer e conforto em sua companhia que sentiam no início do relacionamento. Segundo ela, conforme o prazer em companhia da pessoa amada se repete, o sistema de recompensa passa a ser ativado não somente nos momentos em que estão juntos, ele vai inclusive aprendendo a antecipar a sensação de prazer que se terá com esta pessoa.

Normalmente a fase em que estamos mais acostumados a ativar o sistema de recompensa é durante o namoro, onde queremos ao máximo estar com a pessoa, atraí-la e conquistá-la. Para isso fazemos muitos programas divertidos, conversamos bastante, fazemos coisas novas (muitas vezes coisas que até fazemos mais pelo outro do que por nós mesmos), falamos mais sobre nossos sentimentos. Tudo isso é muito lembrado por todos os casais como uma ótima fase, “a fase boa” do relacionamento. Porém, aos poucos as pessoas vão se afastando daquela conquista, da paquera, , pois, inconscientemente, a fase de maior medo de “perder” o outro já passou. Muitas vezes isto também ocorre como conseqüência do casamento, quando é natural termos que dar atenção também às diversas obrigações. Com isso, a acomodação vai entrando em cena e as crenças, de que é normal mesmo as coisas irem esfriando e de que é normalmente não dar mais tanta atenção ao(à) parceiro(a), vão minando a relação.

As frustrações que vamos passando ao longo da vida, nos relacionamentos, acabam fazendo com que muitas pessoas passem a não acreditar mais na veracidade de relacionamentos verdadeiramente felizes, e, com isso, a chance desta pessoa ter um relacionamento desses é muito menor. A reportagem da Suzana Herculano questiona esse padrão, mostrando que, neurocientificamente, nós podemos sim manter a chama acesa e ter uma boa vida em conjunto. Isso não significa que não haverá problemas e desafios a se enfrentar. A base de tudo isso volta a ser um conceito que eu já citei em outras publicações: regar a plantinha diariamente. Algumas perguntas podem nos ajudar a pensar mais sobre como estamos levando o nosso relacionamento: qual foi a última vez que falamos o quanto gostamos ou amamos? Como temos demonstrado com atitudes, gestos e comportamentos esse amor? Qual foi a última vez que fizemos um carinho em nosso(a) parceiro(a)? Qual foi a última vez que nos beijamos durante mais do que um segundo? Costumamos fazer programas só nós dois? Como está a parte sexual? Como você tem se cuidado, se apresentado ao(à) companheiro(a)?Você tem feito mais elogios ou criticas ao(à) parceiro(a)?

Pense e reflita sobre o que você tem feito pelo seu relacionamento, mas, mais do que isso, sinta! Agora é com você!

 

 Reportagem:

Paixão, amor, casamento…

Pesquisas neurocientíficas mostram que é possível sentir-se encantado pela mesma pessoa por décadas

beto felício (foto); gonçalo viana (ilustração)casal

 Com a repetição, o sistema de recompensa vai aprendendo a ficar ativado não apenas em resposta, mas também em antecipação à presença daquela pessoa. Esse prazer antecipado é a motivação, que nos dá forças para alterar compromissos, abrir espaço na agenda e ficar acordado madrugada adentro. Essa é a paixão, estado de motivação enorme em que se faz tudo em nome de mais tempo na presença do ser amado.Você já se imaginou vivendo 10, 20 ou 50 anos com a mesma pessoa? Sentindo sempre o mesmo prazer em sua companhia, o mesmo conforto em seus braços? Se a perspectiva parece interessante, agradeça ao seu cérebro (e se não lhe agrada, a culpa é dele, também). De certa forma, é curioso que laços afetivos fortes, como os amorosos, sejam tão importantes para nossa espécie. Tecnicamente, viver em sociedade, ou mesmo em pares, não é obrigatório para a sobrevivência de nenhum animal – vide tantos mamíferos, aves e outros bichos que procuram um par somente para o acasalamento e imediatamente depois seguem cada um o seu caminho.

Se gostamos de formar pares a ponto de investir boa parte de nossa energia, tempo e esforços cognitivos em convencer um belo exemplar do sexo interessante de que nós somos a pessoa mais sensacional e desejável na face da Terra, é porque o sistema cerebral humano, como o de outros animais sociais, é capaz de atribuir um valor positivo incrível à companhia alheia. Isso é função do sistema de recompensa, conjunto de estruturas no centro do cérebro especializadas em detectar quando algo interessante acontece, premiar-nos com uma sensação física inconfundível de prazer e satisfação e ainda associar esse prazer com o que levou a ele – o que pode ser uma ação, uma situação, um objeto ou… alguém.
Conforme o prazer se repete na companhia dessa pessoa, o valor positivo que atribuímos a ela é reforçado (enquanto torcemos para que o mesmo aconteça no cérebro dela, associando um valor cada vez mais positivo à nossa própria companhia, claro). É o que fazemos no período de namoro, quando conversas interessantes, passeios agradáveis, boa música, boa comida e carinho oferecem prazeres que vão sendo associados à companhia do outro. Se rola sexo, então, melhor ainda: o prazer do orgasmo funciona como uma cola extraordinária para o sistema de recompensa, que atribui (corretamente!) a satisfação incrível àquela pessoa específica (mas é verdade que isso não funciona tão bem em alguns cérebros…).

Quando vira amor? Essa questão é complicada, mas existe ao menos uma definição operacional curiosa: passado o ardor da paixão, descobre-se que se ama alguém quando pensar em uma vida sem ela causa angústia sincera e profunda. O amor é esse laço que faz seu cérebro achar que sua felicidade está vinculada à presença e à felicidade do outro e que fazê-lo feliz dá novo sentido à sua vida. Nesse estado, desejar o casamento é apenas natural.
Se é para sempre? Depende de vários fatores, alguns deles fora de nosso alcance, como ser traído (e não apenas sexualmente). A boa notícia da neurociência sobre a longevidade dos relacionamentos amorosos é que eles não estão necessariamente fadados ao esgotamento: é, sim, possível se sentir apaixonado décadas a fio pela mesma pessoa. E não é mero acaso de sorte: você pode fazer sua parte. É uma questão de continuar inventando e descobrindo novos prazeres a dois. Tudo para manter o sistema de recompensa do outro interessado em você…

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