A diversidade está aí, mas o que é a “normalidade”?

What-a-crowd-of-one-might-look-likeCom muita frequência, vemos a palavra “diversidade” ser utilizada como um sinônimo de minorias ou grupos que sofrem preconceitos, como: homossexuais; bissexuais; travestis; transgêneros; negros; mulheres; portadores de deficiência; entre outros. O que está por detrás dessa associação é o conceito de norma ou padrão, ou seja, o que é considerado como “normalidade”. Nesta forma de pensar, o que estaria fora deste conceito (“à margem”) são os diversos (diversidade).

Considero essa associação errônea. O conceito de normalidade e de padrão é muito complexo. Afinal de contas, quem são os normais? Trago aqui dois exemplos que acredito que ilustrem bem esta situação:

  • Shampoo para cabelos normais – existe shampoo para cabelos anormais? Qual é o padrão que está sendo usados para definir os cabelos normais? Quais são estes cabelos normais? Normais para quem e em que continente?
  • Band-aid cor da pele ou lápis de cor da pele –  cor da pele de quem? Que pele estão usando como “padrão” nestes casos?

É possível que você nunca tenha parado para pensar nesses exemplos, questionamentos, nesses padrões que sem ao menos percebermos, de forma mais ou menos explícita nos são impostos.

Quando se trata de seres humanos complexos, mesmo que o “padrão” a ser utilizado seja a maioria ou o que é mais frequente, será que devemos considerar o que está fora deste “padrão” como errado ou com menos valia? Usar a matemática (maioria) é uma forma de “previsão” que ajuda, em muito contextos, mas que, como qualquer outro, não pode ser tomado como verdade ou única forma.

É interessante pensar que o que é normal hoje, pode não ter sido há algum tempo atrás, por exemplo: mulheres não podiam votar, e hoje podem; os negros eram considerados menos inteligentes, hoje sabemos que isso é um mito enorme; a homossexualidade era considerada doença, hoje sabemos que isto também não é verdade; acreditava-se que a masturbação fazia mal à saúde, e hoje sabemos que ela é saudável.

Uma das formas muito utilizadas para reforçar essas discriminações é o conceito de naturalização: algo que é natural, que nasceu junto conosco. Algumas frases que buscam confirmar as suas ideias por meio da naturalização são: “o natural é ser heterossexual”; “as mulheres são naturalmente mais carinhosas/emotivas do que os homens”; “as mulheres naturalmente têm mais habilidades para cuidar dos filhos e da casa”. Natural, inato, será? Não será uma construção com influências sociais, religiosas, culturais e históricas?

Além das diferenças históricas, existem também grandes diferenças regionais. O que é considerado “normal” em alguns países e culturas não é considerado em outras, como por exemplo: cliterectomia (remoção do clitóris) que em alguns países é permitido (principalmente África e Ásia) e muitos outros países é proibido; o casamento homossexual é permitido em alguns países e em outros não; em alguns países é permitido casais homossexuais adotarem crianças e em outros não.

Desta maneira, podemos começar a refletir que os conceitos do que é considerado “normal” ou “correto” são questionáveis. Afinal de contas, eles foram criados por alguém, em determinada época, local, história, religião, cultura, dentre tantos outros fatores.

Refletirmos sobre este tema é de extrema importância, pois há consequências para as pessoas que estão fora do considerado “normal”. Elas sofrem preconceito, discriminação, segregação, perdem oportunidades, às vezes são agredidas fisicamente, e até mesmo mortas, tamanha a intolerância.

A homossexualidade e o racismo são exemplos atualmente mais evidentes da intolerância, sujeitando as pessoas a preconceitos enormes por serem considerados diferentes das pessoas que inventaram o padrão do normal, e com isto, esquece-se que no fundo todas são pessoas que amam, sofrem e buscam sua felicidade, como qualquer um.

Acredito que o importante não é do que ou de quem uma pessoa gosta, mas sim quem ela é, quais são seus valores. O pré-conceito acaba nos impedindo de conhecer muitas coisas e pessoas maravilhosas!

Vale reforçar: não somos iguais a ninguém, somos todos únicos! Temos gostos, habilidades, preferências, características físicas e psíquicas diversas! Ninguém é igual a ninguém, essa é uma das maiores riquezas do mundo! Citando Reinaldo Bugarelli: “Diversos somos todos”.

E você? Vem contribuindo com seus pensamentos, falas e atitudes para que possamos respeitar e valorizar a diversidade humana? Ou vem compactuando com preconceitos e discriminações implícitas achando que existe um único tipo de pessoas “corretas ou normais”? Vamos lembrar que o aprendizado é feito em sua maior parte através do exemplo! Que exemplo você está dando?

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