É preciso educar para a diversidade humana

Hoje compartilho com você um lindo texto do meu querido amigo e jornalista Marcos Brogna. Marcos usa os acontecimentos recentes do massacre ocorrido em Orlando e o caso do estupro coletivo no RJ para refletirmos sobre a nossa participação no dia a dia (consciente ou inconsciente, implícita ou explicita, direta ou indireta) em educar ou des-educar para o amor e para a diversidade humana, afinal, “diversos somos todos” (Reinaldo Bugarelli)! Confiram!

images

Eduquemos pela luz da convivência!

O massacre nos EUA e o caso escabroso no Rio são dois exemplos de que precisamos educar pela tolerância se queremos um mundo habitável

A semana começou com mais uma daquelas notícias que nos tiram um pouco a esperança na humanidade: 50 pessoas mortas de forma cruel e absurda numa casa noturna dos Estados Unidos. É o maior massacre com armas da história daquele país, vitimando um público que já é, há muito tempo, alvo de preconceitos e intolerância. Semanas atrás, outro fato também estarrecedor aconteceu aqui no Brasil: o estupro coletivo de uma jovem no Rio de Janeiro.

Nos EUA, um único homem repleto de ódio atirou matando dezenas e ferindo outras dezenas de pessoas inocentes; no Brasil, foram mais de 30 violentando uma única garota. Em ambos os casos, a monstruosidade está presente, em duas das faces mais cruéis que ainda se revelam nas sociedades atuais: a homofobia e o machismo. O pior é saber que não são casos isolados, já que, só no Brasil, a cada 11 minutos uma mulher é estuprada e, a cada 28 horas, um homossexual é assassinado.

O que nós, educadores e educandos, temos a ver com isso? Com os fatos propriamente ditos, nada, mas com os contextos que os envolvem e com a necessidade da formação de gerações que interrompam esse ciclo de ódio, tudo.

Paulo Freire escreveu que “Se a educação sozinha não transforma a sociedade, sem ela tampouco a sociedade muda”. Pois, então, podemos, sim, trabalhar para mudar essa realidade, utilizando a arma mais poderosa do planeta, da qual não sai uma única bala nem machuca ninguém: o conhecimento.

Os dois fatos bárbaros descritos aqui são frutos podres de um plantio também podre. São a colheita da violência que brotou do plantio de sementes de ódio. E esse ódio tem um nome muito conhecido de todos nós: o preconceito, que está muitas vezes disfarçado de “tradição” ou até enraizado em uma estranha forma de fé que, em vez do amor, opta pela segregação.

Já chegamos à Lua e em breve chegaremos a Marte, porém ainda não conseguimos entender o universo imenso que há dentro de nós mesmos. Sócrates, há mais de 2 mil anos, já nos convidava a esse passeio profundo ao dizer “Conhece-te a ti mesmo”, ou seja, entenda a complexa natureza que há dentro de ti para poder ser melhor diante de todos.

Somos diferentes porque somos filhos de uma natureza que tem na diversidade a própria razão de existir, mas ainda insistimos em modelos impostos de amor, de afeto, de comportamentos, de felicidade, de escolhas, de gostos e opções.

Ora, que triste ironia! Em vez de exercermos a liberdade de viver a diferença que é da nossa própria natureza, levantamos muralhas para condenar os outros por não fazerem o que fazemos, por não gostarem do que gostamos, como se isso fosse algum problema para nós. A despeito de todos os direitos individuais conquistados ao longo da história, o mundo permanece repleto de fiscais intolerantes, prontos a condenar os que não seguem seus modos, como se houvesse uma “cartilha” única do que é “certo” ou “errado”, “normal” ou “anormal” para uma humanidade tão complexa.

Voltando a Paulo Freire, o que fazer senão educar?

É claro que tudo isso não se ensina apenas na escola, pois são muitos os espaços onde a educação pode (ou não) acontecer. Mas o desafio das instituições de ensino está cada vez maior no sentido da formação humana, que transcende o “conteudismo” das “grades” curriculares e enxerga o educando como pertencente a uma sociedade, a um contexto. Lembrando um pensamento de Mário Sérgio Cortela, “Não é a família que ajuda a escola na formação da criança. É o contrário”. Ou seja, estamos desafiados a uma educação que una escola e família, ligando ambos ao mundo pelo bem da humanidade.

Nelson Mandela falou certa vez que ninguém nasce racista, pois o racismo é algo que se ensina e, da mesma forma que pode ser ensinado, pode ser “desaprendido”. A premissa vale para todos os preconceitos. O machismo e a homofobia, motivadores dos crimes descritos no início deste texto, podem e devem ser “desaprendidos” e o papel dos educadores é muito importante nesse sentido. 

Se queremos um mundo melhor para se viver, um mundo mais justo para nós, para nossos filhos e para todas as futuras gerações, precisamos banir as podres sementes do ódio e plantar, em seu lugar, a semente da tolerância e da convivência. Precisamos abrir mentes e corações para a aceitação da diferença como fator da riqueza de nossa natureza. Ensinar diversidade não muda a natureza de ninguém: o que muda é apenas a forma de enxergar a si mesmo e ao outro, entendendo e respeitando.

(Texto: Marcos Brogna)

Vício em Sexo

Deixe uma resposta

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *